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quinta-feira, 24 de maio de 2012

Anabea (Ana Beatriz Cerisara)


Anabea [Ana Beatriz Cerisara]

Nasceu em Santo Ângelo (RS) e é radicada em Florianópolis desde 1979.

Para Anabea, o estilo naïf oferece um mundo sem limites para a criação artística, no qual as cores intensas e temas singelos do dia-a-dia de uma pequena cidade, ingênuos e até infantis, roubam a cena.

A despreocupação em encaixar-se numa escola ou estilo e seguir técnicas como a perspectiva permitem um mundo de possibilidades. Junta-se a isso uma das tradições mais antigas do artesanato brasileiro, conhecida ou praticada por qualquer mulher com algum fiozinho de cabelo branco na cabeça: o bordado. Para muitos, uma tradição perdida no corre-corre da competitiva vida moderna.

A delicadeza do trabalho da artista retrata cenas do cotidiano da Ilha de Santa Catarina e personagens da religiosidade brasileira, entre outros temas.


Tecendo a vida

“Bordar, na nossa sociedade, virou coisa para mulherzinha que fica em casa”, observa Anabea. “Com este estilo de vida, abandonamos algumas práticas importantes passadas de geração para geração e a nossa ancestralidade”, complementa.

Professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atuava junto ao curso de Pedagogia, na área de educação infantil, e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Anabea jamais teve contato com a produção artística até o primeiro encontro do grupo de bordadeiras “Respigar”, formado em 2002 na Barra da Lagoa (leste da Ilha de Santa Catarina). O diagnóstico de um câncer, dois anos antes, foi o alerta de que deveria frear o estressante estilo de vida acadêmico que levava. “Vi que, com aquela pressão por resultados e produção, não iria agüentar por muito tempo”, lembra Anabea.

Cinco anos e 52 telas depois, a artista está mais realizada do que nunca com o caminho que sua vida tomou. “Bordar é resgatar o nosso feminino, o nosso sagrado, é tecer a vida. Bordar é uma prática curativa”, explica Anabea, 50 anos.

O exercício em grupo continua sendo fundamental na vida da artista. Às quartas-feiras, ela reúne-se com um grupo conhecido como "Roda de Bordado do Campeche", onde Anabea mora e mantém seu ateliê. Algumas destas mulheres ainda são da época do “Respigar”.

A artista também é voluntária no Centro de Apoio aos Pacientes com Câncer (CAPC), onde coordena um grupo de pessoas que utiliza o bordado para exercitar o auto-conhecimento. Outra atividade em sua agenda é o curso de formação no método Pathwork, baseado na metodologia do equilíbrio entre corpo, espírito e mente, idealizado pela austríaca Eva Pierrakos (1915-1979).

Paciência, intuição, criatividade, sensibilidade e perseverança são treinamentos constantes enquanto a artista pinta suas telas com linhas e agulhas. Por ali vão sendo traçados paisagens e cenários e personagens vão ganhando vida e movimentos próprios – cada tela pode levar até um mês para ficar pronto. As mulheres que bordam trocam idéias, contam histórias, revelam segredos, tornam-se amigas e confidentes. “Em grupo, existe a camaradagem. É como se fosse a gasolina de um carro”, Anabea compara, enquanto alinhava o detalhe de um barquinho no mar.


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