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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Brasilidade e naif


J. Araujo
"Índios Brasileiros do Xingu"
(Xingu Brazilian Indians)
Acrílico s/ tela
90 x 70 cm

Segundo o Dicionário Aulete, brasilidade significa:


1. Qualidade ou caráter do que ou de quem é brasileiro.

2. Sentimento patriótico em relação ao Brasil.


Para mim, e quanto mais o tempo passa, a brasilidade está associada à coragem de se orgulhar de ser brasileiro longe dos períodos festivos e das copas do mundo de Futebol. 

Ontem assisti ao desfile técnico (sem fantasias e carros alegóricos) de duasescolas de samba do Rio de Janeiro: Vila Isabel e Salgueiro. Despertou-me que, talvez, a brasilidade seja isso: um desfile de escola de samba sem fantasias, feito do dia-a-dia, do cotidiano, da resistência alegre de um povo às adversidades, da cordialidade tão genuinamente brasileira, da esperança, do jeito 'moleque' de ser. 

Digo isso porque nossa brasilidade tem sempre que vir acompanhada de 'justificativas' nomes ou modas internacionais. Quase temos de nos desculpar por querermos 'parecer brasileiros'. 

Afonso Luz (crítico de arte, formado em filosofia pela USP, e pesquisador na área de estética e história da arte) faz um retrato bem interessante da culpa e da eterna busca de afirmação de nossa identidade. 

Luz, em entrevista à revista Tatuí intitulada "LADO B| Acumulação e empreendimento", diz que :


"O crítico Paulo Emílio Salles Gomes (...) dizia, ao meu juízo, que ao inventarmos o Brasil desenvolvemos a consciência aguda, por vezes amargurada, de não sermos um povo com identidade positiva. A negatividade começa já na palavra que nos nomeia e guarda sentido depreciativo, bem observado, na atribuição da língua portuguesa ao povo de “eiros” (como sapateiros, açougueiros, brasileiros). Só para lembrar, aqui no território nacional muitas vezes preferimos definirmo-nos como pernambucanos, cariocas, mineiros, baianos, paulistas ou gaúchos". 

Outro cuidado é o de nos travestirmos de uma brasilidade que o estrangeiro quer ver. Ou seja, representarmo-nos com os olhos do gringo, ficarmos fantasiados de papagaio e arara, etc. 


A construção de uma identidade nacional, ou regional, dado o tamanho continental de nosso país, passa necessariamente por elementos culturais que remetam à raízes históricas e populares. Tivemos artistas que compreenderam muito bem essa característica e tocaram na alma brasileira como representantes natos de todo uma nação. Um deles foi Jorge Amado. O Jornal O Globo fala sobre isso: 

Poucos brasileiros sintetizaram tão bem o país quanto Jorge Amado (1912-2001). Suas obras incorporaram personagens ao imaginário nacional, e sua própria história de vida seguiu um enredo emblemático, com intervenções políticas, defesa à liberdade de culto religioso, influência na intelectualidade e observação de costumes do povo.


O artista J. Araujo pinta uma panorâmica da região 
da Quinta da Boavista, localizada no bairro 
de São Cristóvão, no Rio de Janeiro

Voltando ao tema de nosso blog, esse espírito (e não Soul - palavra inglesa para espírito ou alma) de descontração e espontaneidade nossos são encontradas de sobra na arte naif. Os artistas não querem se mostrar brasileiros e não precisam justificar sua brasilidade: simplesmente, eles são.


A qualidade de ser brasileiro e representá-la em arte, sem cair nas 'falsificações' tropicais e etc, é o que o naif tem de espetacular. Por isso, e muitos críticos também consideram, o Brasil é um dos cinco maiores produtores de artistas naifs do mundo.

Sobre isso, Lucien Finkelstein, fundador do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (MIAN), no Rio de Janeiro, falou: 

"(...) podemos dizer que os pintores naifs brasileiros – por seu número e por sua qualidade – são os verdadeiros porta-bandeiras da pintura nacional fora de nossas fronteiras".



Texto: Álvaro Nassaralla



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