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terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Raimundo de Oliveira


[Raimundo Falcão de Oliveira]
Feira de Santana - BA - 1930
Salvador - BA - 1966
Gravador, pintor, desenhista




Com um forte acento nordestino, sua arte evoluiu para a criação estilizada do personagem retratando o nativo local de pequena estatura, com o formato de cabeça arredondado e sobrancelhas grossas, levando esses figuras a várias situações históricas da antiguidade, principalmente passagens bíblicas.


Carlos Perktold (*1), crítico de arte (Associações Brasileira e Internacional de Críticos de Arte (ABCA e AICA), observou sobre sua morte:


"Transcorridos mais de trinta anos após sua morte, a carta com a qual ele se despediu deste mundo em 18 de janeiro de 1966 continua tão emocionante quanto a sua pintura".



"Jonas e a Baleia", 1962
Óleo sobre tela, assinado e datado lr
72,39 x 100,33 cm

O crítico de arte Anatole Jakovsky (*2) também descreveu o acontecimento:

"Você poderia pensar que esse artista era rico e feliz; ele se tornou famoso, e até uma celebridade aos 23 anos de idade. Sua primeira individual foi em 1951 na prefeitura de sua cidade natal (Feira de Santana - BA).

Raimundo deixou uma mensagem na tampa de uma caixa de sapatos, explicando sua atitude motivada pelas suas dificuldades financeiras (seus marchands tomavam 80 porcento de suas vendas) e pela solidão."





"Eljiah e Eliseu", 1962
Óleo sobre Painel
72,4 x 100,3 cm
Fonte:
Artnet


De mãe católica praticante, Raimundo foi levado ao conhecimento das passagens bíblicas e ao desenho e à pintura, já que ela era pintora de temática religiosa.


"Fuga para o Egito", 1955
Técnica: nanquim
45 x 62 cm

Fonte: Acervo de Arte


Novamente Carlos Perktold contribui com essa bela e síntetica descrição da breve e intensa carreira do pintor brasileiro:


Mas o que o artista herdou da mãe não foi somente a bondade transformada em humanismo na sua pintura. Dona Santa era católica devota e transferiu sua crença para o filho, que fez das histórias do Velho Testamento a temática principal da obra que o consagrou pelo Brasil afora.


Tal como Ismael Nery, deixou poucos trabalhos em comparação de outros contemporâneos que viveram mais e, por isso, produziram mais. Mas tudo que fez, foi santificado pela forma, pela paleta colorida, pelo ritmo, pelo equilíbrio e pela preocupação com a simetria da composição. A simetria é essencialmente barroca e cada quadro seu pode ser colocado como se fosse um altar noqual o espectador reverencia a paixão pelo conteúdo sacro, a paleta colorida, o amor pela composição, vendo e ao mesmo tempo rezando o que ele escreveu com tela, pincéis, cores e paixão: belas estórias de amor.


"Auto-retrato"
Fonte:
http://oliveiradimas.blogspot.com.br/2013/01/e-memoria-de-raimundo-de-oliveira.html


Faz sua primeira exposição no ginásio em que estudava, incentivado pela professora de desenho. Ao concluir os estudos, em 1947, transfere-se para Salvador, estudando pintura com Maria Célia Amado, na Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia.

Mas sua primeira individual profissional é realizada na Prefeitura de Feira de Santana, em 1951.

Vive em São Paulo de 1958 a 1964, quando aprofunda "sua experiência expressionista, com o aproveitamento transfigurador de imagens de velhos santos", segundo Roberto Pontual (*3). Depois mora no Rio de Janeiro entre 1965 e 1966.

Em 1966, ano de sua morte, é editada a "Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira. Xilogravuras", contemplando nove xilogravuras em cores do artista. É editada pela Galeria Bonino e Petite Galerie, organizada por Julio Pacello, com prefácio de Jorge Amado. Prefácio esse que publicamos mais abaixo.



"A via crucis de Raimundo de Oliveira", 1982
Editora: Fundação Cultural de Estado da Bahia

Textos: Antonio Celestino; Carlos Eduardo Rocha; Edivaldo Boaventura; EduardoPortella;
James Amadi; Jayme Mauricio; Jorge Amado; Juracu Doreta; Wilson

Texto: Álvaro Nassaralla
 
Referências bibliográficas:

(*1) Carlos Perktold
Fonte: http://www.portalartes.com.br/colunistas/3-carlos-perktold/10-raimundo-de-oliveira.html
Fonte origianl: Caderno Pensar do jornal “Estado de Minas” e revista da AML.

(*2) Anatole Jakovsky
Peintres naïfs - Lexicon of the world´s primitive painters
Basilius Presse Basel
1967

(*3) Roberto Pontual
 Dicionário das Artes Plásticas no Brasil



"Via crucis"
Dicionário de Artistas do Brasil



Críticas 

"E então todos se deram conta que o burel não era um burel, era uma velha capa contra a chuva, e o cajado não era cajado, eram pincéis de pintura. E havia uma tela e o cujo sujeito pintava. Alguns quiseram apedrejá-lo, considerando-o um vigarista vindo de fora, mas outros reconheceram o peregrino e a ele se dirigiram, tratando-o familiarmente de Mundinho. Pois era Raimundo de Oliveira, filho da terra, desde menino um vago, sem jeito para o trabalho, a não ser para riscar papel, se isso é trabalho que se considere. Tinha ido embora fazia tempo, dele não havia notícia. Apareceu agora de repente e em torno de sua grande cabeça pairava uma atmosfera mágica, como se o cercasse a luz da madrugada. (...)


Esse pintor, esse grande pintor da Bíblia e da Bahia, esse que passou a limpo a violência do Velho Testamento e o tornou de maciez de veludo, esse que encheu de flores a áspera tragédia antiga, esse moço de voz tímida e segura certeza, esse Raimundo de Oliveira é um profeta com alma de Francisco de Assis. Só a Bahia o podia produzir, nos caminhos da cidade onde nasce o sertão; só a Bahia o podia alimentar e o oferecer às galerias do sul, à glória e à fama, pois sua Bíblia tem uma respiração de candomblé (não fosse ele filho de mãe Senhora de Ôpo Afonjá e não houvesse aprendido a cozinhar com Olga do Aleketu). Mestre pintor, não sei de outro que tenha crescido tanto em sua arte, mantendo-se tão fiel aos sonhos de sua meninice, às esperanças de sua Mãe e ao seu tesouro escondido. (...)
 

Raimundo de Oliveira (...) não ficou na Bahia. Era um profeta e tinha de levar sua profecia mundo adentro. Tinha de correr os caminhos e demorar em terras distantes. Anda por aqui e por ali, mas é na Bahia que ele vem se alimentar de terra, de animais, de Deus e de amor, é na Bahia que ele vem, humilde e vitorioso, reapreender o mistério do homem e sua necessidade de paz e de fartura".

Jorge Amado - 1966
 
AMADO, Jorge. [Palavras]. In: OLIVEIRA, Raimundo de. Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira. Xilogravuras. Prefácio Jorge Amado; organização Julio A. Pacello. São Paulo: Lia Cesar, 1966.

Fonte: Mercado Livre 


Histórico 
Fonte: Saber Cultural

1947 – Mudou-se para Salvador, frequentando a Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia, onde conheceu artistas de expressão nacional, como Jenner Augusto e Mário Cravo Júnior.

1951 – Participou das edições dos Cadernos da Bahia.

1958-59 – Pintou a Via Crucis, constituída por vinte peças, que alguns críticos consideraram seu trabalho mais importante.

1958-64 – Estabeleceu-se em São Paulo, SP, passando curta temporada na Bahia ao longo desse período.

1965-66 – Residiu no Rio de Janeiro,RJ

1966 – No ano em que se suicidou, foi lançada a coletânea de xilogravuras Pequena Bíblia de Raimundo de Oliveira, coordenada por Julio Pacello e prefaciada por Jorge Amado.

1982 – Em Salvador foi criada a Galeria Raimundo de Oliveira e editado o álbum Via Crucis.
 
Realizou diversas mostras individuais, entre as quais as mencionadas a seguir:
 
1951 – Galeria Oxumaré, Salvador.

1953 – Prefeitura Municipal, Feira de Santana, BA.

1956 – Belvedere da Sé, Salvador.

1957 – Plástica Galeria de Arte, Buenos Aires, Argentina.

1958 –Galeria Oxumaré, Salvador.

1959 – Galeria Ambiente, São Paulo.

1960 - Teatro Novos Comediantes, São Paulo; Teatro Oficina, São Paulo.

1961 - Galeria Aremar, Campinas, SP.

1961, 62 e 64 – Galeria Astreia, São Paulo.

1963, 65 – Galeria Bonino, Rio de Janeiro.

1964 - Galeria Bonino, Buenos Aires.

1966 – Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro.
 
Entre suas exposições coletivas, podem ser citadas as seguintes:
 
1951 – 1º Salão Universitário Baiano de Belas Artes, Salvador.

1957 – Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro.

1960 – Salão Paulista de Arte Moderna.

1961 – Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

1963 e 65 – Bienal de São Paulo, São Paulo.

1964 – Salão Paulista de Arte Moderna, São Paulo.

1965 – Salon Comparaisons, Musée d'Art Moderne, Paris, França; Galerie Jacques Massol, Paris.

1966 – Museo de Arte Moderno, Buenos Aires; Lausanne, Suíça; Instituto de Cultura Hispânica, Madri; Amel Gallery, Nova York; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York.

Após sua morte, foi lembrado, entre outras, nas seguintes mostras, coletivas e individuais:

1966 – 4ª Resumo de Arte do JB, Museu de Arte Moderna, Rio de Janeiro; 1ª Bienal Nacional de Artes Plásticas, Salvador; 5º Salão Paulista de Arte Moderna, Galeria Prestes Maia, São Paulo.

1969 – Via Crucis, Gabinete de Arte de Botafogo, Rio de Janeiro.

1979 – Raimundo de Oliveira: pinturas, Galeria de Arte Ipanema, São Paulo.

1986 – Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo.

1992 – Décima Primeira Arte, Fundação Romulo Maiorana, Belém, PA.

1997 e 98 – Exposição do Acervo da Caixa, Conjunto Cultural da Caixa, Porto Alegre RS São Paulo, Curitiba, PR, e Rio de Janeiro.

1998 – Os Colecionadores - Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras, Galeria de Arte do Sesi, São Paulo.

2002 – Arte Brasileira na Coleção Fadel: da inquietação do moderno à autonomia da linguagem, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo.


Fontes:
 
ARTE no Brasil. Textos de Pietro Maria Bardi et al. Abril Cultural. São Paulo, 1979.
CAVALCANTI e AYALA. Dicionário Brasileiro de Artistas Plásticos. MEC/INL, 1973-77.
GRAVURA: arte brasileira do século XX. Apres. Ricardo Ribenboim, textos de Leon Kossovitch et al. Itaú Cultural/Cosac & Naif, São Paulo, 2000.
LEITE, José Roberto Teixeira. Dicionário Crítico da Pintura no Brasil. p. 365, Artlivre, Rio de Janeiro, 1988.
PONTUAL, Roberto. Dicionário das artes plásticas no Brasil. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro, 1969.
VIA crucis de Raimundo de Oliveira. Apres. Antonio Carlos Magalhães. Textos de Eduardo Portella et al. Fundação Cultural do Estado da Bahia, Salvador, 1982.
ZANINI, Walter. História Geral da Arte no Brasil. Instituto Moreira Salles, Fundação Djalma Guimarães, São Paulo, 1983.
< http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=3094&cd_item=34&cd_idioma=28555 >
< http://www.artefeirense.blogspot.com/2009/05/raimundo-oliveira.html>
 

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