Muitas vezes os caminhos mais longos são os mais curtos. Cora Azedo, apesar de ser filha de um dos ícones da arte Naif, Aparecida Azedo, começou a pintar já adulta. A impressão que sempre tenho com Cora é a de que ela começou ‘tarde’ mas pegou a estrada da arte justamente onde sua mãe deixou. Já começou sendo premiada em três concursos antes mesmo de expor para venda seus quadros.
17° Salão de Artes Plásticas de Cerquilho (SP) Premiação: Primeiro Lugar (30 de Abril de 2016). |
Os prêmios foram os seguintes:
1. Clube Militar - Prêmio Distinção. "Como o tema era educação, fiz minha mãe pintando com sua estante de livros ao fundo" (imagem abaixo).
2. Sociedade Brasileira de Belas Artes - Prêmio "Paleta de Bronze" (Imagem abaixo).
"Drummond e os pássaros"
Cora Azedo
Caneta stabilo 0,4 sobre papel Canson
|
3. 17° Salão de Artes Plásticas de Cerquilho (SP) - Premiação: Primeiro Lugar - 30 de Abril de 2016.
Dois quadros: "Festival de Pipas" e "Refugiados ll".
Na tela "Festival de Pipas", Cora resgata a ingenuidade característica do naif, porém de uma forma nova, contemporânea e própria, incluindo pequenos traços para preencher as áreas maiores, conferindo uma textura visual pouco encontrada nesse segmento de arte. Além disso, o trabalho trouxe uma nova leveza à paisagem carioca compreendendo o Aterro do Flamengo, as águas da Baía de Guanabara e os morros do Pão de Açúcar.
"Festival de Pipas"
Cora Azedo
Caneta Stabilo 0,4 sobre papel Canson
|
Por outro lado, em "Refugiados II", a pintora traz a realidade cruel dos norte-africanos e árabes que fogem de suas terras natais por ocasião e motivo de guerra e fome. As duas grandes mãos abertas podem representar tanto a súplica para que os europeus acolham esse população, quanto chamar a atenção para que as grandes potências realmente parem com suas corridas imperialistas e possam trabalhar em prol do fim das guerras e da fome. A inspiração de pintar o tema veio do sentimento de tristeza em relação ao drama sofrido pelas crianças refugiadas.
A breve e já vitoriosa carreira de pintora naif
Cora começou a pintar no final de 2014 em seu trabalho. Ela diz:
"Andava um pouco estressada do cotidiano da vida e para espairecer resolvi um dia comprar um bloco de papel Canson e canetas Stabilo. Com elogios dos amigos, enviei um trabalho para participar do salão de artes da cidade de Cerquilho (SP). Para minha surpresa, fui premiada com o primeiro lugar. Fiquei, então, muito animada e comecei a participar de outros salões. Fui para o segundo, no Clube Militar, e ganhei outro prêmio e depois mais um na Sociedade Brasileira de Belas Artes".
Quando perguntada sobre suas maiores influências nas artes visuais, ela responde que foi sua mãe, Aparecida Rodrigues Azedo:
Observe-se que como a entrevista já tem um tempinho, ela venceu novamente o Salão de Cerquilho, agora em 2016.
"Desde criança a via pintando objetos como roupas, lencinhos, tênis conga, bolsas de cartolina, que ela mesmo fazia, com o rosto do Wilson Simonal e outros desenhos, tudo isso para poder ajudar na renda familiar quando meu pai, jornalista e comunista, era despedido ou perseguido. Éramos seis crianças para alimentar".
Engajamento da pintora
Como exemplo dos pais filiados ao partido comunista e suas seguidas perseguições e prisões, Cora cresceu em um ambiente de luta em favor do mais desfavorecidos. Essa influência é clara ao se olhar para o aspecto de engajamento de seu trabalho quando ela chama a atenção não somente para as injustiças que ocorrem pelo mundo, mas também para questões e acontecimentos políticos de nosso país.
"Convivi com pessoas de esquerda e vivi meu dia-a-dia tentando ajudar a mudar a realidade dos oprimidos. Participava de movimentos políticos e movimento de bandeirantes e escoteiros. A política sempre fez parte da minha vida. Talvez seja por isso que, na maioria das vezes, o que pinto 'diga' o que sinto no cotidiano, na realidade. A arte é uma forma de expressão que o artista precisa aproveitar para mandar a sua mensagem em relação a sociedade. Não posso ver a realidade e não participar; sinto a necessidade dessa participação. Não podemos fechar os olhos e a arte precisa ser expressiva: falar do mundo e para o mundo".
Nem por isso, seus desenhos e telas perdem em lirismo. Encontrei nessa obra (imagem abaixo), uma lição de brasilidade. A estrada passando na beira da casa tipicamente familiar a todos nós que viajamos por esse país, as pipas no ar, as aves voando e no chão, as bromélias na parte inferior da tela. Convenhamos, essa é uma típica paisagem de um Brasil que todos vemos quando viajamos pelo país.
As Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro também não foram esquecidas. Cora fez algumas telas, destacando-se duas. Na primeira, vemos a nova Praça Mauá inaugurada em 2015, o Museu do Amanhã e o bondinho que vai correr por toda a zona portuária da cidade. Ao fundo, os belos detalhes da Ponte Rio-Niterói e o Pãozinho de Açúcar, fechando-se em círculo como numa perspectiva do planeta Terra arredondado-se quando visto de cima. Na segunda tela, temos uma competição de barco a vela na Baía de Guanabara com um belo Corcovado assistindo a tudo.