"Unção e virtude" Fonte da imagem: FAAC/UNESP |
Quando Waldomiro de Deus saiu de sua pequena Itajubá, no interior da Bahia, não poderia imaginar que procederia uma verdadeira peregrinação pela vida. O pesquisador Oscar D´Ambrosio (*) assim escreve:
"Criativa e surpreendente. Esses são os dois adjetivos utilizados para caracterizar a vida e a obra de Waldomiro de Deus, reconhecido internacionalmente como um dos maiores pintores naifs do mundo".
"Terremoto", 1997 acríclico s/ tela 150 x 200 cm coleção do autor |
Chegando a São Paulo em 1956, com 12 anos de idade, dormiu três dias na rua até que um policial o levou para morar com sua família em Osasco. Também morou no exterior, em Goiânia (GO) e, depois, foi para o meio do mato quando viu que o seu lugar era mesmo a capital Paulista.
Hoje o artista já realizou mais de 150 exposições na Itália, Belgica, França, Israel e em quase todo o Brasil. Waldomiro tornou-se, segundo D´Ambrosio, "uma referência obrigatória no gênero".
O maior estudioso e pesquisador brasileiro da Literatura de Cordel, Joseph M. Luyten, analisou a relevância da obra do pintor:
"A base é profunda e forte: elementar da vida rural baiana acopladaos a aspectos citadinos ou da moda, mas em tudo há um espéirito mágico que tudo tranforma num mundo peculiar que já deixou de ser Waldomiro para se tornar uma expressão caracte´ristica brasiliera e tropical". (**)
A importância e o estilo do artista também são relatados pelo crítico de arte Mario Schemberg:
Waldomiro de Deus passou a ser considerado como uma das personalidades mais criativas da arte primitiva brasileiram desde a década de 60, pela riqueza excepcional de sua temática, continuamente enriquecida. A sua pintura se caracteriza sobretudo pela sua força da linha e o emprego feliz da matéria pictórica. (**)
O próprio artista, em entrevista a TV BM&F Bovespa (quando de sua exposição comemorando 50 anos de carreira no espaço cultural dessa mesma instituitição), refere-se a sua inspiração para criar: "A arte tem sempre de transmitir uma mensagem. E essa mensagem vem quando você passa pela rua e sente o problema do povo, a poesia, a beleza e a agressividade do povo, e aí vem a criatividade".
Sua obra tem grande apelo religioso e social (defesa dos direitos humanos).
Segundo D´Ambrosio, o artista é citado no livro do conceituado crítico norte-americano, Selden Rodman. intitulado "Genius in the Backlands: Popular artists od Brazil" (1976):
"Ao ver os rostos criados por Waldomiro, o pesquisador norte-americano os compara aos fantasmas neuróticos pintados por Munch, aos pesadelos imaginados por Fuseli, às imagens estáticas e santos de El Greco, aos cristos bizantinos e ao célebre quadro Cigana adormecida, de Rousseau. “No mundo noturno das visões atribuladas de Waldomiro, suas personae são perfeitamente apropriadas. Elas ‘fazem as suas coisas’ com todo sensual sadismo e delicados movimentos ritmados próprios dos sonâmbulos que são”, diz o crítico norte-americano, que considera Waldomiro um dos grandes naïfs brasileiros".
"Ao ver os rostos criados por Waldomiro, o pesquisador norte-americano os compara aos fantasmas neuróticos pintados por Munch, aos pesadelos imaginados por Fuseli, às imagens estáticas e santos de El Greco, aos cristos bizantinos e ao célebre quadro Cigana adormecida, de Rousseau. “No mundo noturno das visões atribuladas de Waldomiro, suas personae são perfeitamente apropriadas. Elas ‘fazem as suas coisas’ com todo sensual sadismo e delicados movimentos ritmados próprios dos sonâmbulos que são”, diz o crítico norte-americano, que considera Waldomiro um dos grandes naïfs brasileiros".
Texto: Álvaro Nassaralla
(*) Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus - Por Oscar D'Ambrosio
(**) Catálogo Bienal Naifs do Brasil - 2000 - SESC/SP
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