terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Stevenson Moschini e o caos exuberante


[Stevenson Moschini Carlos]
23/10/1967
Piracicaba, SP



O trabalho do artista paulista Stevenson Moschini guarda traços particulares ao naif, mas faz a releitura desse estilo (abandonando definitivamente a ingenuidade), trazendo uma mescla de influências que deságuam em suas telas.  

Classificado como Expressionismo naif, é importante destacar que Moschini trouxe para o naif, características do Expressionismo ( Surgido na Alemanha no início do século 20). Entre elas estão a distorção das formas (acentuando o caráter emocional das imagens), a intensidade de cores (muitas vezes usando tonalidades quentes e vibrantes), além de uma interpretação particular da realidade, onde o componente irracional emerge para ressaltar expressivamente os estados psicológicos do pintor.

'Eu e minhas cachorras'

Mesmo estando em nova fase onde assume a busca de uma linguagem particular, como declarou o artista à Folha de Piracicaba (destacando-se um estilo mais geométrico), nessa postagem, buscamos seus trabalhos que estão relacionados de alguma forma à arte naif e deixamos de fora as experiências em que um novo caminho vai sendo descoberto.

Em entrevista a Sabrina Franzol, o artista revela uma descrição geral de suas obras: "Não faço pinturas muito estáticas, gosto de retratar o movimento em minhas obras, porque, na realidade, tudo é efêmero, tudo é passageiro".

Percebe-se em Moschini, o prática catártica de seu processo de criação, onde seus fantasmas são exorcizados em forma de arte e transformados em um caos exuberante.


'Eu e o negro gato de arrepiar - in Rio', 2008
Óleo sobre tela
1.05 x 1.05 cm

Quando perguntamos o que a arte representa em sua vida, o pintor nos disse: 

"Representa uma ligação com o sagrado, a transformação de algo negativo em positivo, uma forma de expressão. Um elo com a passagem, a transformação e tudo que é efêmero , inclusive a vida . A serenidade no meio do caótico."


Como tudo começou

Nos anos 80 a cidade paulista de Piracicaba viu surgir, mesmo que como um reflexo dos anos 70, o movimento punk. Nesse cenário, Moschini extravasava sua rebeldia em bares e shows de bandas que professavam por esse estilo cultural. Com o tempo, começou a receber influência do Tai Chi, filosofia que o aproximou da artes plásticas, onde passou a expressar sua insatisfação de uma maneira mais sóbria.

'Minha geração'

Stevenson começou a pintar em 1997, no seu último ano da Faculdade de Geografia (Unesp / Rio Claro). Ele diz que já tinha contato com a arte desde criança: 

"Há muito tempo já tinha ligação com o desenho, desde a tenra infância. Tentei a música, não deu certo. Daí, por influência de meu irmão e um amigo que já pintavam, participando de salões, comecei a pintar". 

Quando indagado sobre como ele descreveria sua arte, o pintor nos disse:

"Uma arte que tem uma ligação intrínseca com a Brasilidade, a miscigenação, a herança africana e indígena. A força da cor viva dos  trópicos, com este mundo mágico e desconhecido que foi muito alusivo a chegada dos europeus no novo mundo".

'Entre dois mundos'


Mesmo com um temário ricamente histórico, as telas do artista não escapam de um processo sumariamente irracional. Perguntamos em que se inspira para criar? Como é seu processo criativo? Ele nos disse:

"No ambiente a minha volta, natural e antrópico. Nos sonhos e em uma arte espontânea que vem de dentro com um exercício autômato. A cultura popular, a música, há uma arte não pensada e irracional. Arte está baseada nas ideias de Freud, ligada ao inconsciente, muito bem representada no surrealismo. Apesar dessas influências, porém, considero minha arte muito mais ligada ao movimento, a cor e a expressão, além da espontaneidade que são as influências expressionistas".

As influências de outros artistas plásticos ficam por conta de "Franz Marc, Oscar Kokosha, os degenerados, como Marc Chagal. Alguns artistas que foram denominados de arte bruta. Naifs como Heitor dos Prazeres, Waldomiro de Deus, Rousseau e outros".


'Kalpa'

Amor a Piracicaba

Podemos descrever, "Amor a Piracicaba" (imagem abaixo), a grosso modo, como uma tela 'dividida' em dois grandes momentos justapostos. Uma parte no surrealismo (com toques de art brut), onde formas como rostos e outros objetos aparecem inesperadamente em meio a paisagem fantástica, e outra parte caótica quando aparecem pedaços das formas como um pescoço e cabeça de girafa, uma espécie de santo segurando um coração, peixes, uma casa, um ser indefinido deitado em algo que se parece com uma nuvem-colchão, tudo isso em meio a uma paisagem caótica, não abstrata porque conseguimos distinguir padrões de um mundo: um mundo caótico, é bem verdade, mas mesmo no caos existe um ordenamento, que é complexo, sendo que a distribuição de cores e formas (ou semi-formas) é viva em Moschini.

'Amor a Piracicaba'

Das influências surrealistas, vamos para uma pitada de impressionismo de Van Gogh, que o piracicabano também traz para o naif, em 'A ilha', tela abaixo.


'A Ilha'



Na imagem abaixo, observamos a releitura de uma obra de Paolo Veronese, pintor Maneirista do Renascimento. Do alto à esquerda, a tela começa com a paisagem do nascimento de uma criança. Conforme se vai percorrendo para a direita e para baixo, na diagonal, diversos mundo caóticos vão compondo uma paisagem surrealista.


'Releitura da obra de Paolo Veronese'
483cm X 496 cm
No caso da tela "Fauna Urbana ou Crônicas de Bar" (imagem abaixo), selecionada na Bienal Naif 2006Moschini conta a quase anedótica estória em entrevista a Antônio Marsala (Jornal Candura /2007): 

"Eu fui a um bar em Campinas e ofereci o meu trabalho para o proprietário. Ele me disse que se fizesse um trabalho  com o tema 'bar' , poderia comprá-lo. Fiz o quadro, e quando o mostrei, ele disse: 'não gostei'. E foi justamente esse quadro, chamado 'Fauna urbana', apresentando o bar como tema, que eu mandei para a Bienal Naifs (...) e que acabou sendo escolhido".

'Fauna Urbana ou Crônicas de Bar'


EXPOSIÇÕES 

1999

Exposição Coletiva no Centro Ecológico e Cultural da Rua do Porto - Piracicaba-SP
                 
2000

Exposição individual no Espaço Cultural e alternativo LAO –“Paisagens da Alma Brasileira” - Rua do Vergueiro, 156 Piracicaba- SP

2001

Exposição coletiva “ESALQ como inspiração”
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- USP
Piracicaba-SP
               
Exposição Coletiva – VI EXPO- PARQUE – Exposição de Esculturas, Instalações nos Jardins do “Parque da Ressurreição”
Piracicaba-SP

Exposição coletiva Aquarela do Brasil- A imigração em São Paulo
Memorial do Imigrante
São Paulo – SP

2002

Exposição Coletiva Aquarela do Brasil- A imigração em São Paulo
Teatro Municipal de Mauá
Maúa-SP
    
Exposição Coletiva Aquarela do Brasil- A imigração em São Paulo
Fundação Pró-Memória
São Caetano-SP

Ilustração do livro de bolso, Amor- Vadiações sobre o tema em parceria com Edgar Cliquet. Autores: Beto Massoni, Arthur A. Faria Júnior e Sônia A. Soares.
Local: Livraria Nobel- Litoral Plaza Shopping
Praia Grande-SP

Exposição Coletiva OS PÁSSAROS
Parque Avenida Galeria de Arte
São Paulo-SP

2003

Exposição individual no Ateliê Marta Moraes
Piracicaba – SP

2006

Naifs do Brasil, Bienal de Arte Ingênua e Primitiva, Entre culturas, Matizes Populares  – SESC/ Piracicaba,SP, Selecionado para a Mostra Oficial,  Curadoria da Profa.Dra. Ana Mae Barbosa
             
2007

Exposição individual “País da Cocagna” – “CentloCultuLao”
Período de 29 de Junho à 14 de Julho de Piracicaba – SP
Restauro dos Onibûs de Madeira utilizado com brinquedos pedagógicos do Espaço Lúdico do Projeto Curumim (voltado às crianças de 7 a 12 anos) – SESC Piracicaba - Março à abril de 2008

2008

Exposição coletiva “Lá Vem a Ema” – Casa do Povoador - Piracicaba - SP
Período de 25 de Janeiro à  08 de Fevereiro de

Convidado a ser incluído no Site do Jornalista e Crítico de Arte, Oscar D’Ambrosio, filiado à Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA) – Seção Brasil

2009

Exposição Coletiva DIVINO CONTEMPORÂNEO
Ateliê Arte Feita – Rua Prudente de Moraes, Centro- Piracicaba - SP
Visitação de 25 de Julho à 25 de Agosto de 

2010

Exposição coletiva “Na Pegada da Ema e Vou” – Casa do Povoador. Avenida Beira Rio 800 –
Piracicaba-SP

Projeto Rio das Artes – Valorização das Artes Plásticas e Ateliês de Piracicaba
Inscrito no Grupo Ateliês e Serviços

Exposição individual no Ateliê Casa do Salgot – Cheio de gente, Cheio de Bichos

2011

Exposição coletiva– Casa do Povoador. Avenida Beira Rio 800 - Piracicaba-SP

Exposição Coletiva Tradição em Arte (VI Fórum das tradições populares de Piracicaba)
Período de 12 a 31 de Agosto de 2011

2014

Mostra Bienal Naifs 12ª edição O santuário refletido no espelho 2014 – SESC/ Piracicaba,SP, Selecionado para a Mostra Oficial,  Curadoria de Diógenes Moura


Tela selecionada para a
12ª edição da Bienal Naïfs do Brasil (2014)
Realização: Sesc Piracicaba - SP


Texto e postagem: Alvaro Nassaralla

Fonte: O artista

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