sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ilton Silva

Ponta Porã - Mato Grosso do Sul - 1944


Aproximando-se da pop art, Ilton Silva representa uma corrente que vem crescendo no mundo naif. Assim como Rogério Fernandes, Ilton também pode ser chamado de pop naif.
Auto-didata, pintor, entalhador e escultor, começou pintando paisagens e rostos sempre com forte apelo social. Da infância humilde no Mato Grosso do Sul, trazia os cavalos e as pessoas com quem convivia para as telas. Como diz o colecionador Gilberto Luiz Alves no texto abaixo, ele nunca deixou de celebrar o trabalhador.



Mesmo tendo passado por várias fases e estilos em sua pintura, a série Cores e Mitos, com mulheres pintadas com cores chapadas é a mais representativa de seu estilo.




Com uma produção intensa, Ilton também apresenta uma variedade de temas impressionante. Uma observação atenta nos mostra que ele ora ultrapassa o naif, indo desaguagar em novas variações de seu estilo, ora retorna ao naif, mas sempre com forte acento de arte pop.

Texto: Álvaro Nassaralla





ILTON SILVA
Por Gilberto Luiz Alves
(Colecionador / Professor Universitário)


Ilton Silva é filho de Conceição dos Bugres, consagrada escultora primitivista que criou os bugrinhos em madeira que se tornaram referência cultural do Estado. Ilton Silva em sua trajetória, acumulou sucessivos prêmios nos salões de artes plásticas de Mato Grosso do Sul, tendo realizado ainda exposições individuais na Argentina, Alemanha, em Portugal e nos Estados Unidos.

Embora tenha passado por diversas fases, as pinturas realizadas em sua série Cores e Mitos são a principal marca do
trabalho do artista, com mulheres pintadas com cores chapadas, contornos filetados e a moldura de madeira integrada à obra por meio da projeção dos filetados da pintura.

Versátil e criativo, o artista explorou diversos materiais em sua pintura, desde o tradicional pincel e espátula até trapos de pano e algodão.

Atualmente, Ilton Silva mora em Santa Catarina (SC).

Alves escreveu: "A despeito da diversidade formal das diferentes fases pelas quais transitou; a despeito de suas andanças e das influências que foi amealhando mundo afora, nunca abdicou de celebrar o trabalhador. Esta é a peculiaridade que dá unidade ao conjunto de sua obra. Ilton celebra, assim, suas próprias origens fronteiriças, que ganhando o plano da consciência, tornou-o um militante de todas as causas devotadas à transformação da sociedade e à busca de um futuro de maior igualdade entre os homens".



Fonte: Apreciadores de Artes



 
 


EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

1967 - Campo Grande MT - Individual promovida pela Associação Mato-Grossense de
Artes

1972 - Campo Grande MT - Individual, na Galeria do
Hotel Campo Grande

1977 - Cuiabá MT - Individual, na Fundação Cultural do Mato Grosso

1982 - Campo Grande MS - Individual, na Itaugaleria

1984 - Campo Grande MS - Individual, na Itaugaleria



EXPOSIÇÕES COLETIVAS


1968 - Cuiabá MT - Mostra Grupo Jovem Mato-Grossense, promovida pela Associação
Mato-Grossense de Artes

1968 - São Paulo SP - Cinco Artistas de Mato Grosso, na Galeria do Cinema Belas Artes

1969 - Campo Grande MS - Oito Artistas de Mato Grosso, no Galeria do Diário da Serra

1970 - Campo Grande MT - Panorama de Artes Plásticas, promovida pela Associação
Mato-Grossense de Artes

1974 - Cuiabá MT - Mostra inaugural do Museu de Arte e de Cultura Popular, da UFMT

1975 - Cuiabá MT - Panorama de Artes Plásticas em Mato Grosso, no Museu de Arte e de
Cultura Popular, da UFMT

1979 - Campo Grande MS - 1o Salão de Pintura de Mato Grosso do Sul, no Paço Municipal

1979 - Campo Grande MS - 1o Salão do Artista Jovem, no Paço Municipal - sala especial

1980 - Campo Grande MS - 2o Salão de Pintura de Mato Grosso do Sul, no Paço Municipal

1981 - Brasília DF - 3a Marco - Exposição de Artes Plásticas do Mato Grosso do Sul

1981 - Campo Grande MS - Exposição de Artes Plásticas, no Consoja - Congresso de Soja

1981 - Rio de Janeiro RJ - Artistas de Mato Grosso do Sul - Projeto Arco-Íris, na Galeria
Funarte - Rodrigo M. F. de Andrade

1987 - Campo Grande MS - 1a Exposição Itinerante de Artes Plásticas da UFMS, no
Campus de Campo Grande

1987 - Cormbá MS - 1a Exposição Itinerante de Artes Plásticas da UFMS, no Centro
Universitário de Corumbá

1987 - Dourados MS - 1a Exposição Itinerante de Artes Plásticas da UFMS, no Centro
Enciclopédia Itaú Cultural de Artes Visuais Universitário de Dourados

1987 - Ponta Porã MS - 1a Exposição Itinerante de Artes Plásticas da UFMS, no Campus
Avançado de Ponta Porã

1987 - Três Lagoas MS - 1a Exposição Itinerante de Artes Plásticas da UFMS, no Centro
Universitário de Três Lagoas

1987 - Campo Grande MS - 6o Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul - por uma
identidade ameríndia

1988 - São Paulo SP - Referências Pantaneiras na Pintura de Mato Grosso e de Mato Grosso
do Sul, no Paço das Artes

1990 - Campo Grande MS - Pinturas, na Itaugaleria

1993 - Campo Grande MS - 7o Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul, no
MAC/MS

1994 - Campo Grande MS - 8o Salão de Artes Plásticas de Mato Grosso do Sul, no
MAC/MS - menção especial

 
  





"(...) O desenho flui do pincel que muitas vezes é apenas condutor do traço, e livremente vai animando cenas, inventando paisagens, dando formas humanas às montanhas, rostos às pedras, folhas e árvores, numa narrativa quase hieroglífica.

Seu temário é amplo e vasto. Ora faz paisagens inventadas, inspiradas sutilmente em algum ponto ou fato real, sem no entanto se prender a veracidades, ora inventa cenas conotadas com alguma conversa ou algo que lhe tenha impressionado visualmente, em determinado tempo ou hora do dia.

Em todos os quadros ou entalhes há enorme riqueza de detalhes.

A pintura faz parte de seu cotidiano, como espécie de lenitivo para aclarar as idéias. Não consegue começar ou terminar perfeitamente o dia sem antes ter pintado um quadro.

Algumas vezes procura uma integração entre a pintura e o entalhe, utilizando molduras, entalhadas no mesmo processo do desenho, com riscos rápidos cortados no formão e escurecidos com anilinas. Aparecem novamente elementos mais característicos de sua continuidade da pintura, inclusive no próprio colorido. O resultado é surpreendente. Os quadros adquirem então uma característica especial, definindo melhor um estilo inconfundível para o artista.

Nesses momentos felizes, seu trabalho nos envolve na atmosfera mágica de um universo visionário, enigmático e primitivo".

In: FIGUEREDO, Aline. Artes Plásticas no Centro-Oeste. Aline Figueredo.Cuiabá,UFMT, MACP, 1979. 


Fonte: Blog Sociedade dos Poetas Amigos 
 

 
 



Video com quadros do artista em suas diversas fases

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Heitorzinho dos Prazeres


[Heitor dos Prazeres Filho]
07 de dezembro de 1942
Rio de Janeiro - RJ



“A pintura e a música sempre fizeram parte de minha vida, o meu choro era acompanhado por cavaquinho e violão, meu sorriso provocado pelas cócegas dos pincéis nas palmas de minhas mãos e nas solas dos meus pés”.

Heitorzinho dos Prazeres
 


Heitor dos Prazeres Filho nasceu da união do mestre Heitor do Prazeres e Nativa Paiva. Heitorzinho seguiu o legado artístico do Pai na música e na pintura.


Quando Heitorzinho nasceu, seu pai compôs a música "A coisa melhorou". Seus versos diziam: "É mais um guerreiro, é mais um carioca, é mais um brasileiro", ao que o filho não negou, envolvendo-se totalmente com o universo popular do Rio de Janeiro. 


Na pintura
, Heitorzinho registra, como o pai, o cotidiano dos subúrbios cariocas, mas abre-se a novos temas como o desfile das escolas de samba, a prática ilegal de soltar balões, mas que está arraigada na cultura local principalmente por ocasião das festas juninas,  o dia-a-dia em comunidades carentes onde crianças jogam bola de gude, músicos tocando em botequins, na rua e em festividades.



Texto: Álvaro Nassaralla
 



 

 


 

 


 

 


 

 


 
 
Fonte das imagens:   Grupo Sambistas Pintores
Site do Heitorzinho dos Prazeres
 
 
Veja Nelson Sargento (Grupo Sambistas Pintores)

Veja Wanderley Caramba (Grupo Sambistas Pintores)

Veja Sérgio Vidal (Grupo Sambistas Pintores)
 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Sérgio Vidal


[Sérgio Vidal da Rocha]
Rio de Janeiro - RJ, 1945

A vontade de pintar apareceu quando, ainda adolescente, visitou o atelier do Heitor dos Prazeres, sendo arrebatado por uma inspiração imediata.


Trabalhou em diversas profissões até conseguir se dedicar apenas à pintura.

Descrevemos o estilo de Vidal como um purista do naif. Alguns chegam até a classificá-lo como realista popular. Mas, na verdade, seu trabalho tem se não todas, quase todas as características de um naif clássico.

Vidal pinta seu 'habitat', os momentos de lazer e de trabalho do homem popular. Isso fica claro nas telas onde revela o ambiente de trabalho em uma marcenaria.




Ou os grandes salões de sinuca do Rio antigo e que estão voltando a moda.





 




Ou, ainda, uma roda de samba em família, com a dona da casa fazendo bolinhos de aipim.

"Bolinho de aipim"Óleo sobre tela
80 x 100 cm
 


Chegou a pintar o que depois ficou conhecido  e ganhou repercussão internacional como "surfe ferroviário" e seus praticantes como "Surfistas de trem", expressão consagrada na música de Jorge Benjor chamada W Brasil (Chama o síndico).





Antonio Houaiss diz:

"Na pintura de Vidal o que me encanta é a sua fidelidade ao seu universo vivido: o flagrante realista dos seus companheiros e companheiras, nos bons (e raros e sofridos) instantes de folgas (que para eles não há lazer, palavra tão prestigiosa agora para uma certa sociologia, uma certa administração e uma certíssima ideologia da criação de ilusões e venda de seus produtos de consumo aliciado)".



A ligação de Vidal com a música o colocou no grupo 'Sambistas Pintores', ao lado de Nélson SargentoWanderley Caramba e Heitorzinho dos Prazeres (filho).  










 


O trabalho do feirante, dos garotos vendendo jornal nas ruas, os homens conversnado dentro de uma oficina, assim também como um dia de labuta na marcenaria, estão todos perfeitamente encenados realisticamente por Vidal.  

Houaiss, abaixo, descreve com perfeição o espírito do trabalhador, a solidariedade do brasileiro e seus momentos de folga:

"Mas o trabalho, a carência e a solidariedade ali estão, na esperança de serem esperança, alegria e abundância: dia virá.

Folga e labuta, eis os temas que voltam, em ambientes internos e externos, de quase geométrica perspectiva aérea, de tão despojada descrição, em que não há irrelevâncias nem inoportunidades: cada pormenor é um pormaior para a configuração de um mundo imediato, tão presente no cotidiano, que foge e na memória, que esquece".

 






 
Por fim, o intelectual Antonio Houaiss entra a descrever o estilo de pintura e a função poética da obra de Vidal:

"Há o colorista, ademais do figurativista.E há um sonho concreto, feito de ímpetos de aqui e agora, igualitário e confraternalmente.

E, realmente, por que prorrogar indefinidamente a humanidade da humanidade - perguntam as telas de Vidal (embora ele mesmo evite perguntar, como o coração do Poeta, que não pergunta nada).

Acompanho Vidal há muitos anos e o vejo crescer na sua visão autêntica, que fixa e propõe criaturas humanas e relações humanas mais humanas. Eis um poeta do ver."


Texto: Álvaro Nassaralla 




Biografia
Começou a trabalhar aos 12 anos de idade e com 25 anos já havia exercido atividades profissionais em diversas áreas como metalurgia, eletrônica, fotografia, contabilidade e comércio.

Filho de uma organista da Igreja e de um regente do coral, Vidal interessou-se pela música, especialmente pelo violão.

A curiosidade pela pintura surgiu ainda na infância quando Vidal encontrava seu vizinho pintor andando pelas ruas com um cavalete e uma tela. Mas começou a pintar após visitar, em 1963, o ateliê de Heitor dos Prazeres, pai de um amigo de infância. Segundo o próprio artista: “o ateliê ficou gravado na minha sensibilidade. Ele (Heitor dos Prazeres) estava terminando um quadro, e aquela emoção me envolveu”.

Em 1965, Vidal finalizou as suas primeiras telas.

Até 1971, o artista conciliou a vida de pintor com outros trabalhos, mas a partir desse ano passou a se dedicar exclusivamente à pintura. Foi em 1974, no entanto, quando participava de uma exposição em São Paulo, que recebeu seu grande incentivo: o artista modernista Di Cavalcanti adquiriu uma obra do jovem pintor e o levou até seu ateliê. A sua primeira exposição coletiva ocorreu em 1972 e a primeira exposição individualaconteceu em 1981, na Galeria Brasiliana, em São Paulo.

Em 1991, cursou Filosofia na UERJ, interrompendo o curso no quinto período.

As obras de Vidal são consideradas uma crônica dos costumes, um retrato do cotidiano do povo brasileiro.

Fonte: Museu Afro Brasil

 
 
 


 
 
 
 








Texto de Antonio Houaiss - RJ, junho de 1982 - Fonte: Galeria Estação

Fonte das Imagens: Grupo Sambistas Pintores
 


Veja Nelson Sargento (Grupo Sambistas Pintores) 

Veja, também, Wanderley Caramba (Grupo Sambistas Pintores)

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Nelson Sargento


[Nelson Mattos]
Rio de Janeiro, RJ
25/7/1924 



Mesmo como pintor de paredes, Nelson Sargento desde cedo lidou com tintas. Pintando a casa do crítico de música e arte Sérgio Cabral, teve a ideia de começar a fazer arte. 


Cabral então estimulou Sargento em sua primeira exposição e deu o primeiro empurrão organizando a vernissage em sua casa. Nada menos que Paulinho da Viola foi seu primeiro comprador.






Na Revista Brasileiros encontramos uma breve descrição de como foi a exposição inicial pelo próprio artista:

“Minha primeira galeria foi o apartamento de Sérgio Cabral no seu aniversário em 1973. Sete quadros. Meu primeiro trabalho foi abstrato, com massa plástica, técnica que descobri com os respingos no chão. Hoje está com Paulinho da Viola, que se apavora quando digo que quero o quadro de volta. Fui fazendo meus quadrinhos até que me padronizei. Todo pintor chega a isso quando encontra um estilo que gosta, ou gostam. Caso do Volpi, um grande paisagista que ficou marcado pelas bandeirinhas. Pinto mesmo. A Eni falou do show aqui com a exposição e eu só tinha cinco quadros, eram necessários 27. Aí vai viola. Pintei 22.”



Grupo sambistas-pintores
Nélson Sargento, Heitorzinho dos prazeres,
Sérgio Vidal e Wanderley Caramba
(esq. p/direita)

No jornal A Nova Democracia, ele diz: "— Eu gosto de pintar os morros, as escolas de samba, os ritmistas, as baianas. Esse é o tema da minha pintura".




A força da pintura de Nelson Sargento está exatamente no exercício da não-força, da simplicidade com que retrata a vida, sem redundância, simples das pessoas e da vida cotidiana do Rio de Janeiro.





Mas o que é a arte senão uma busca eterna pela alma, pela expressão e síntese de todo um povo? Quando encontramos isso de uma forma tão clara, aí encontramos o que Sargento representa em suas telas: o imaginário carnavalesco e a 'raça' brasileira, tão miscigenada e rica.

Texto: Álvaro Nassaralla



 





Fonte: Revista Brasileiros

Fonte das Imagens: Grupo Sambistas Pintores

 
Veja também Wanderley Caramba, componente do grupo "Sambistas Pintores".

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

Wanderley Caramba





Rio de Janeiro - RJ - 1934

Wanderley caramba, nascido e criado no Morro de São Carlos - RJ, é um dos integrantes do grupo 'Sambistas pintores' (criado em 1984), ao lado de Nelson Sargento, Sérgio Vidal e Heitorzinho dos Prazeres.

De um estilo que as vezes pode parecer fugir do naif, Wanderley recria um universo mítico de um Rio de Janeiro regado a muito samba, bem viver e um toque nostálgico da malandragem de outros tempos.


A carioquice da gema é muito bem traçada na obra de Caramba: o que para os americanos pode ser chamado de 'easy going', para nós é mesmo "de bem com a vida". Seu universo tem pipas, rodas de samba, belas mulatas, partidas de futebol, portas bandeiras de escolas de samba (Mangueira), favelas, o violão no botequim, crianças e suas brincadeiras, sem esquecer da religiosidade de orgiem africana. Todos esses elementos sempre acompanhados com o pano de fundo de uma luz aberta como o são a maioria dos dias no Rio de Janeiro.

Em entrevista para o Jornal Nova Democracia, o sambista-pintor declara:

"— Sou um compositor, criado dentro do universo do morro e do samba, que também nasceu predisposto a desenhar e pintar, amando da mesma forma música e artes plásticas. Costumo me inspirar na minha própria infância e naquilo que fui vendo ao longo da vida para pintar e compor. Sou de uma família de cariocas, de muitas gerações".

Texto: Álvaro Nassaralla














Fonte das fotos: Sambistas Pintores

Bamba no samba e na pintura


Por Rosa Minine


Carioca da gema, como afirma, nascido e criado no Morro de São Carlos, o sambista, compositor e artista plástico, Wanderley Caramba, é um típico 'talento do povo'. Seus sambas-enredos já venceram carnavais e seus quadros retratam bem a boemia carioca, o povo do morro e seu cotidiano, tudo muito colorido. Um dos quatro componentes do grupo 'Sambistas pintores', Caramba faz parte da 'Velha Guarda da Estácio', sendo um exemplo de fidelidade à sua raiz.


Continuação: A Nova Democracia


Entrevista com Wanderley Caramba (Cinema Campinarte) em vídeo

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Iracema

[Iracema Ruffolo Arditi]
1924 - São Paulo - SP
2006 - São Paulo - SP


Começou a pintar, como autodidata, em 1951, depois de exercer várias atividades como a de secretária, jornalista, aeromoça.


Em 1954, expôs no Salão de Arte Baiano, em Salvador. Foi, todavia, na década seguinte que sua carreira deslanchou, a partir de sua primeira exposição individual no Brasil, na Casa da Cultura Francesa, São Paulo, em 1965, a qual foi seguida, no mesmo ano, pela mostra individual na Galeria Herbinet, em Paris.

 


"Bonné Année"
27 x 31cm

1999


Desde então, participou de dezenas de exposições coletivas, no Brasil e no exterior, e realizou cerca de 30 exposições individuais, a maioria fora do Brasil.

 
"État de Grace"22 x 30 cm
1998

No exterior, seu mercado desenvolveu-se sobretudo na França, onde ela expôs individualmente nas galerias Herbinet, Paris (65), Antoniete,Pa ris (67), Camille Renault, Paris (69), Séraphine, Paris (70) , Debret, Paris (74), no Museu Henri Rousseau, Laval (74), Espace Culturei O.P., Lyon (90), Maison deL'Unesco, Paris (90) e Espace Cuiturel Rencontre et Acuueil, Lyon (91). Além disso, Iracema participa com muita regularidade do "Salon d'Automne" a partir de 1967, no Grand Palais, em Paris. 


Apaixonada pela causa naïf, Iracema criou em 1972 em São Paulo o "Museu do Sol", primeiro museu de arte naïf do Brasil e da América Latina, o qual foi transferido em 1978 para a cidade de Penápolis, no interior do Estado de São Paulo, onde continua em pleno funcionamento.

 

"Lavande"
1998

Em 1988, uma seleção de pinturas do acervo do Museu do Sol foi mostrado no Museu de Arte Naïf Max Fourny, em Paris, dentro do programa cultural do "Projeto Brasil- França". 




"Le Matin"
50 x 70 cm

1972
(Coleção do Museu de Arte Moderna de São Paulo)


Pelos serviços prestados à vida cultural de Penápolis, a Câmara Municipal da cidade concedeu Iracema o título "cidadã penapolense", em 1978. Quatro anos antes ela havia sido distinguida com Medalha da Cidade de Laval, França, onde nasceu pintor naïf Henri Rousseau. E, 1985, o governo francês concedeu-lhe grau "Chevalier des Arts et Lettres".

 
"L'Etoile de la Mer"33 x 46cm
1998


Iracema descreve sua obra:


"Sol verde é a luz que envolve minhas paisagens, sejam elas azuis, verdes ou amarelas. Meus telhados dourados ou anilados estão contornados por uma aura verde. Quando pinto, tenho impressão de que "Ele" me toma pelas mãos e juntos saimos passeando. Tomamos caminhos, mas delizamos do que andamos. Nossos olhos vêm montanhas através das asas transparentes de borboletas gigantescas. Entre nós existe cumplicidade maliciosa. Cor, cor... Pinceladas verdes, azuis, amarelas, rosas. Pinto o silêncio, o amor, a alegria, o vento..."



“Paz Suprema”
Óleo sobre tela
24 x 35 cm
1980

Críticas


No site da pintora, encontramos o reconhecimento que recebeu do poeta chileno Pablo Neruda e do crítico de arte Anatole Jakovsky. Além deste último, muitos outros escritores críticos arte escreveram sobre a obra de Iracema. Para José Geraldo Vieira, "Iracema é paisagista de um trópico lírico". O site ainda cita a crítica de José Roberto Teixeira Leite: "Suas pinturas são "evocações saudosas do Jardim Éden, poéticas visões de Hortus Axnoenus, nostálgica reconstituição Paraside Lost".

Como se não bastasse, o próprio escritor Jorge Amada escreveu sobre Iracema: veja o texto abaixo.

"IRACEMA DO BRASIL"


Jorge Amado

Um país vegetal e mágico, paisagem tranqüila com águas mansas de lagos e rios, legiões de enormes borboletas, pequenos pássaros em bando, numa inata sabedoria de cores, eis o mundo de Iracema em quadros cada qual mais repleto de paz. Recordo meu deslumbramento no meu primeiro contato com a pintura da moça paulistana, se não me engano em uma exposição na Galeria Cosme Velho. Essa sensação imediata de paz e amor na visão de um mundo ainda não afetado por toda a corte de desgraças que nos cerca e assassina a cada instante em todos os quadrantes de um mundo sem sentido. Iracema nos restitue a simplicidade, a ternura, uma plenitude de vida.

 

Não por acaso sua pintura emocionou tanto à Pablo Neruda, a ponto de escrever aos ver seus quadros "Fué como presenciar los primeros amores de la tierra." Não por acaso outro grande poeta, o brasileiro Murilo Mendes, afirma recolher-se a um pequeno quadro de Iracema, pendurado na parede de seu estúdio romano, para fugir da ameaça da bomba atômica - na pintura de Iracema aflitos nos refugiamos, oásis da vida em meio às ameaças de morte.

Porque também é poesia a pintura de Iracema onde por vezes flores, borboletas, aves e crianças se fundem feericamente numa transfusão de planos e cores como não houvessem limites para a invenção, para o sonho do artista.


Sonho de flores e folhagens que é ao mesmo tempo realidade concreta pois Iracema pinta o Brasil, aquele Brasil ainda intocado e puro, agora exposto mundo afora pelo talento da pintora para a emoção e a esperança de quantos o descobrem nessas paisagens onde podemos, como ela próprio anunciou "colher nossas flores", Iracema quer apenas nos "oferecer algumas flores". Em verdade, ela nos oferece um universo de amor.





Viva o Rio
1,16m x 2m

1976
(Coleção Privada)


Exposições individuais

1965 - Casa da Cultura Francesa - São Paulo, Brasil
Galeria Herbinet - Paris, França

1966 - Galeria Vernon - Rio de Janeiro, Brasil

1967 - Galeria II Carpine - Roma, Itália
Galeria Antoinette - Paris, França

1968 - Galeria Cosme Velho - São Paulo, Brasil

1969 - Galeria Camille Renault - Paris, França

1970 - Galeria Séraphine - Paris, França
Galeria Petite - Rio de Janeiro, Brasil

1971 - Galeria Cosme Velho - São Paulo, Brasil

1972 - Galeria Barcinski - Rio de Janeiro, Brasil

1973 - Galeria Azulão (Iracema, Especial) - Guarujá, Brasil

1974 - Retrospectiva - Museu Henri Rousseau - Laval, França
Galeria Debret 'Retrospectiva' - Paris, França

1975 - Galeria Documenta - São Paulo, Brasil

1976 - Galeria Jardim das Artes - São Paulo, Brasil
Galeria "Le Petit Trésor" - Balê, Suíça

1977 - Centro Cultural Brasil-Estados Unidos - Santos, Brasil
Galeria Karlen Gugelmeier - Montevideo, Uruguai

1978 - Galeria Spacio - Punta del Este, Uruguai
Galeria de Arte Academus - São Paulo, Brasil

1981 - Galeria de Arte André - São Paulo, Brasil

1982 - Museu do Sol - Penápolis, São Paulo, Brasil

1983 - Galeria de Arte André - São Paulo, Brasil

1986 - Galeria Contemporânea - Ribeirão Preto, Brasil

1987 - Solar do Barão - Jundiaí, Brasil. Etel Arte - Campinas, Brasil

1990 - Espaço Cultural O.P. - Lyon, França
Maison de L'Unesco - Paris, França
Galeria Zangbieri - Bâle, Suíça

1992 - Espaço Cultural Accueil et Rencontre - Lyon França
Maison de France - Cultura Francesa - Lyon, França. França

1994 - Universidade de Heidelberg - Heidelberg, Alemanha
Centro Cultural Germano-lbero - Latino America - Frankfurt, Alemanha
Mês da Pintura Brasileira - Villenes s/ Seine, França

1996 - Banco Central do Brasil - São Paulo

1997 - Galeria Choice - São Paulo

1998 - Bienal de Arte Naif Brasileira, Sala Especial - Piracicaba, São Paulo

1999 - Papéis Preciosos - San Domingo - República Dominicana
Convidada de Honra - Bienal de Arte Naif - Capela são Julien - Laval, França

2000 - Embaixada do Brasil, exposição individual na inauguração do
Espaço Cultural da Embaixada Brasileira em Londres, Inglaterra


Principais exposições coletivas

Salão de Outono - 1967, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1975, 1976, 1977, 1978, 1980, 1990 - Grand Palais - Paris, França

1954 - 40º Salão de Arte Baiano - Salvador (Bahia), Brasil

1966
- Primeira Trienal de Pintura Naïf - Bratislava, Iugoslávia
- "Les Peintres Naïfs"- Galeria Argos - Nantes, França
- "Brésil Imprévu" - Maison Jansen - Paris, França
- 30 Salão Nacional - Brasília, Brasil


1967
- Primeira Bienal dos Mestres Contemporâneos- Bernheim Jeune - Paris, França
- "La Vigne et le Vin" - Bordeaux, França
- "La Naiveté dans l'art" - H. Carlton, Cannes, França
- Exposição Inaugural Museu Henri Rousseau - Lavai, França
- Floralies lnternationales - Orleans, França.

1968
- "Le Monde des Naïfs" - Milão, Corregio Ferrara, Itália
- "Les Naïfs" - Galeria Argos - Nantes, França

1969
- Panorama Atual da Arte Brasileira - Museu de Arte Moderna - São Paulo, Brasil
- Visions Naives Pétiques - Toulouse, França
- Una Maga e Doce Naïfs - Galeria Felucca, Roma, Itália
- Primitivos Brasileiros e Estrangeiros - Museu do Estado de São Paulo, São Paulo, Brasil
- O Amarelo e a Pintura - Galeria Cosme Velho - São Paulo, Brasil

1970
- Semana Brasileira - Lyon, França
- "Peintres Naïfs" - Montreuil, França
- "Naïfs" do Brasil - Milão - Spoleto, Itália

1971
- Festival Internacional de Pintura - Cagnes-sur-Mer, França
- Noventa Naïfs - Galeria Felluca - Roma, Itália

1972
- Exposição Inaugural - Galeria Vernissage - Rio de Janeiro, Brasil
- Bienal Internacional de Menton - Menton, França
- "Dans la Danlieue de l'Art" - Museu de Le Mans, França
- Terceiro Encontro Judaiense de Arte - Jundiaí - São Paulo, Brasil
- Semana de Gala da Natureza Morta - São Paulo, Brasil
- Feira Internacional de Artes - Dusseidorf, Alemanha

1973
- Seleção de Pintura Naif Internacional - Galeria Mona Lisa- Paris, França
- Naïfs da América Latina - Centro de Cultura da América Latina - Roma, Milão, Nova Iorque
- Primeira Exposição de Pintura Primitiva - Museu de Arte Carneiro da Silva - Piauí, Brasil

1974
- Les Naïfs de L'Amerique Latine - Bruxelles, Bélgica

1975
- 10º Salão de Arte Internacional - Teerã, Irã
- Primitivos da América Latina - Galeria Bonino - Rio de Janeiro, Brasil.

1976
- Sala Especial na Exposição Internacional de Mestres Ingênuos -Basiléia, Suíça
- Salão Comparaison - Paris, França

1976
- Arte-Mulher - Rio de Janeiro, Brasil
- Inauguração Galeria Emy Bonfim - São Paulo, Brasil
- Litografias de Artistas Europeus - São Paulo, Brasil
- "Les Quatres Saisons" - Galeria Séraphine - Paris, França

1977
- Pintura/Escultura - Museu da Imagem e Som - Rio de Janeiro, Brasil
- Linguagem dos Mestres da Pintura Ingênua - Galeria Suzy Brunner - Zurique, Suíça

1978
- Salão de Artes Plásticas - Penápolis, Brasil
- Pequenas Telas, Grandes Pintores - Galeria Academus - São Paulo, Brasil

1979
- Panorama da Pintura Brasileira - Museu de Arte Moderna de São Paulo, Brasil
- Concours D'Art Naive - Galeria Pro Arte Kasper - Morges, Suíça
- Cinco Tendências - Centro Cultural Brasil-Estados Unidos - Santos, Brasil

1981
- Salão de Penápolis - São Paulo, Brasil

1982
- Obras Primas da Pintura Ingênua - Alemanha Paisagens - Museu de Arte Moderna - São Paulo, Brasil

1985
- Pintores Naïfs - Defeuse 4 - Paris, França

1986
- Naïfs da Atualidade - Marselha, França

1987
- Quadros Redondos - G. Grossniau - São Paulo, Brasil
- Arte Brasileira no Século XX - Museu de Arte Moderna - Rio de Janeiro, Brasil
- Naïfs Brésiliens - Musée Max Fournay - Paris, França
- Mois de la Peinture Naive - São Paulo, Brasil

1988
- Seleção de Pintores Ingênuos - Mês da Pintura Ingênua - Museu de Arte de São Paulo, Brasil

1990
- Salão de Outono - Paris, França
- Museu do Sol, Banco Central do Brasil - São Paulo

1991
- Salon D'Hiver - Lyon, França

1992
- Salão Internacional - Piracicaba, São Paulo - Brasil
- Arte Ingênua - Sala dos Consagrados Earth song - Museu Commanderie d'Unet, França
- Sala dos Consagrados - Salão de Jundiaí, São Paulo

1998
- Cinco Expressões da Arte Brasileira - Banco Central do Brasil.
- São Paulo Futebol na Arte - Galeria André - São Paulo
- Sala Especial na Bienal de Arte Naif Brasileira - SESC - Piracicaba

1999
- Papéis Preciosos - Santo Domingos - República Dominicana
- Sala Especial na 2ª Bienal de Arte Naïf - Laval - França


Fonte:
www.iracema.org



Entrevista sobre o seu processo criativo (EM FRANCÊS)