quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Arte naïf + Folclore = Uma só coisa!

 
Virinho (Severino Silva de Souza)
"São Jorge"
Foto: Álvaro Nassaralla
 
A relação da arte naif com o folclore são praticamente indissociáveis, uma vez que o artista retrata sob o seu olhar 'ingênuo', passagens sociais do dia-a-dia e das festividades regionais que vive.

Quanto mais se pesquisa o naif, mais nos deparamos com o conhecimento acerca de festas folclóricas e, ainda, acentua-se nossa certeza da riqueza popular cultural do Brasil.

O brasileiro, talvez por estar imbuído demais em viver - e isso é ótimo, não se dá conta da dimensão de variedade e multiculturalidade do folclore nacional.

Segundo o Wikipedia, folclore é:


(...) a tradição e usos populares, constituído pelos costumes e tradições transmitidos de geração em geração. Todos os povos possuem suas tradições, crenças e superstições, que se transmitem através das tradições, lendas, contos, provérbios, canções, danças, artesanato, jogos,religiosidade, brincadeiras infantis, mitos, idiomas e dialetos característicos, adivinhações, festas e outras atividades culturais que nasceram e se desenvolveram com o povo.


J. Araujo
Fachada antiga do Pavilhão de São Cristóvão
Mapa de São Cristóvão (FAPERJ)

 
J. Araujo, um pintor predominantemente paisagista, retratou a fachada do Pavilhão de São Cristóvão, quando da encomenda da FAPERJ feita ao artista para pintar o mapa e os pontos turísticas do bairro.


A feira de São Cristóvão no Centro de Tradições Nordestinas é um exemplo de um povo que, mesmo a milhares de quilômetros de distância de sua terra natal preserva suas raízes e tradições culturais. Na feira, além de restaurantes e shows de músicas típicas, existem diversas lojas de proudtos artesanais que vão desde cerâmicas de arte e utilitárias para o lar, a até queijo coalho, cachaça, chapeús de couro.



André Cunha
"Maurício de Nassau e a Lenda do Boi Voador"

O pintor pernambucano André Cunha é um dos artistas naifs que mais trabalha temas folclóricos regionais.  Podemos ver na imagem abaixo, ele pinta a Lenda do Boi Voador e o personagem fantasiado de Maurício de Nassau. O episódio aconteceu de fato em Recife à época das invasões holandesas no nordeste brasileiro e foi inserido no imáginario popular. Vale a pena conhecer do que se trata O Boi Voador.
 


André Cunha
A La ursa quer Dinheiro no carnaval do Nordeste


Outra tradição nordestina, essa do carnaval, são os Ursos. O jornal O Nordeste descreve do que se trata:


Na sua forma mais simples é um conjunto de dois homens: um, o "urso mesmo", isto é, um homem vestido de urso; e o outro, o "domador", também chamado "O Italiano", e "O Comandante". Freqüentemente, aparece uma terceira figura, "O Caçador", um tipo de folião ou palhaço, que conduz uma velha espingarda e dá tiros cada vez que parece que o urso vai escapar.


Veja a explicação completa dessa tradição folclórica carnavalesca no 'O Nordeste'.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

“A arte sob o olhar de Djanira”


Pesquisando sobre a pintora naïf Djanira, encontrei o catálogo da exposição “A arte sob o olhar de Djanira”, da Coleção Museu Nacional de Belas Artes (Ouro sobre Azul Editora, 2005).


 
O catálogo traz o feliz depoimento de Maristela Requião (Museu Oscar Niemeyer, Curitiba – PR):

“Os trabalhadores do campo e das cidades, as manifestações populares e religiosas, as matas verdes, as flores e os frutos tropicais, nascidos a partir da paleta da artista, relatam o poderoso sentido da brasilidade de Djanira. Uma fascinante lição de um país que existe! O Brasil feito de poesia e alma de um povo trabalhador, feliz, em sua geografia de paraíso eterno, embora, muitas vezes, tenhamos que buscá-lo”. (pg. 09)

 
 
Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2006/04/03/a-arte-sob-o-olhar-de-djanira-3/
 
 
Também, transcrevemos aqui, o depoimento de Laura Maria Neves de Abreu (Museu Nacional de Belas Artes, RJ, novembro de 2005): 

“O desenho era para Djanira um exercício, uma prática necessária. A obra nascia a partir do desenho. O grafite, a caneta esferográfica, o crayon ou o lápis de cor sobre o papel registravam os primeiros momentos da composição, que se completava através da utilização da têmpera a guache ou tinta a óleo. Num artigo, de 1962, o crítico José Roberto Teixeira Leite nos conta: ‘Era preciso ter visto Djanira pintando oito, dez, doze horas diárias (…) para avaliar a força íntima dessa criatura, tão concentrada em sua criação. Mostrou-me seus desenhos, e são centenas: não se passou um dia sem que a artista procurasse corrigir e apurar a sua técnica em exercícios de sensibilidade e agilidade. Seria necessário ver também o que está por trás de cada obra sua concluída – os esboços ou estudos preparatórios de seus quadros pintados’.” (pg. 53)




'Ciranda', sem data
Óleo sobre tela
59.0 x 80.5 cm

Acervo: MUSEU DE HISTÓRIA E ARTES DO ESTADO
DO RIO DE JANEIRO (Museu do Ingá)



Por fim, o site Wikiquote traz a descrição feita pelo escritor baiano Jorge Amado, ícone de nossa cultura, à brasilidade da pintora:


“Djanira traz o Brasil em suas mãos, sua ciência é a do povo, seu saber é esse do coração aberto à paisagem, à cor, ao perfume, P'as alegrias, dores e esperanças dos brasileiros.


Sendo um dos grandes pintores de nossa terra, ela é mais do que isso, é a própria terra, o chão onde crescem as plantações, o terreiro da macumba, as máquinas de fiação, o homem resistindo à miséria.
 
Cada uma de sua telas é um pouco do Brasil.”

 

 

Conheça o perfil completa de Djanira, clicando na imagem abaixo:





 
 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Waldomiro de Deus: Sensual sadismo


"Unção e virtude"
Fonte da imagem: FAAC/UNESP
 

Quando Waldomiro de Deus saiu de sua pequena Itajubá, no interior da Bahia, não poderia imaginar que procederia uma verdadeira peregrinação pela vida. O pesquisador Oscar D´Ambrosio (*) assim escreve:


"Criativa e surpreendente. Esses são os dois adjetivos utilizados para caracterizar a vida e a obra de Waldomiro de Deus, reconhecido internacionalmente como um dos maiores pintores naifs do mundo".




"Terremoto", 1997
acríclico s/ tela
150 x 200 cm
coleção do autor

Chegando a São Paulo em 1956, com 12 anos de idade, dormiu três dias na rua até que um policial o levou para morar com sua família em Osasco. Também morou no exterior, em Goiânia (GO) e, depois, foi para o meio do mato quando viu que o seu lugar era mesmo a capital Paulista.

Hoje o artista já realizou mais de 150 exposições na Itália, Belgica, França, Israel e em quase todo o Brasil. Waldomiro tornou-se, segundo D´Ambrosio, "uma referência obrigatória no gênero".
 



O maior estudioso e pesquisador brasileiro da Literatura de Cordel, Joseph M. Luyten, analisou a relevância da obra do pintor: 

"A base é profunda e forte: elementar da vida rural baiana acopladaos a aspectos citadinos ou da moda, mas em tudo há um espéirito mágico que tudo tranforma num mundo peculiar que já deixou de ser Waldomiro para se tornar uma expressão caracte´ristica brasiliera e tropical". (**)

A importância e o estilo do artista também são relatados pelo crítico de arte Mario Schemberg:

Waldomiro de Deus passou a ser considerado como uma das personalidades mais criativas da arte primitiva brasileiram desde a década de 60, pela riqueza excepcional de sua temática, continuamente enriquecida. A sua pintura se caracteriza sobretudo pela sua força da linha e o emprego feliz da matéria pictórica. (**)





"Sem título", sem data
óleo sobre tela
1,92 x 0,96 cm
Fonte: CNFCP/IPHAN

O próprio artista, em entrevista a TV BM&F Bovespa (quando de sua exposição comemorando 50 anos de carreira no espaço cultural dessa mesma instituitição), refere-se a sua inspiração para criar: "A arte tem sempre de transmitir uma mensagem. E essa mensagem vem quando você passa pela rua e sente o problema do povo, a poesia, a beleza e a agressividade do povo, e aí vem a criatividade".

Sua obra tem grande apelo religioso e social (defesa dos direitos humanos).



Segundo D´Ambrosio, o artista é citado no livro do conceituado crítico norte-americano, Selden Rodman. intitulado "Genius in the Backlands: Popular artists od Brazil" (1976):

"Ao ver os rostos criados por Waldomiro, o pesquisador norte-americano os compara aos fantasmas neuróticos pintados por Munch, aos pesadelos imaginados por Fuseli, às imagens estáticas e santos de El Greco, aos cristos bizantinos e ao célebre quadro Cigana adormecida, de Rousseau. “No mundo noturno das visões atribuladas de Waldomiro, suas personae são perfeitamente apropriadas. Elas ‘fazem as suas coisas’ com todo sensual sadismo e delicados movimentos ritmados próprios dos sonâmbulos que são”, diz o crítico norte-americano, que considera Waldomiro um dos grandes naïfs brasileiros".


Texto: Álvaro Nassaralla
 
 
Depoimento de Waldomiro de Deus - História de vida do pintor, toda trajetória antes do reconhecimento e da fama (vídeo).

 
Fontes e bibliografia:
 
(*) Os pincéis de Deus: vida e obra do pintor naïf Waldomiro de Deus -  Por Oscar D'Ambrosio
 
(**) Catálogo Bienal Naifs do Brasil - 2000 - SESC/SP
 

 
 
 
Clique nos botões abaixo e conheça mais de 200 artistas
naifs clássicos e contemporâneos resenhados:

 



 
 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Djanira


 [Djanira da Motta e Silva]

Avaré- SP, 1914
Rio de Janeiro - RJ, 1979

Pintora,desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora brasileira



Djanira e o cão Horácio

FOTO: Djanira.
Catálogo da Exposição do Museu Nacional de Belas Artes
(pág. 19); São Paulo, 1976.





"O circo", 1944
óleo s/ tela
97 x 117,2 cm


Djanira é uma das artistas mais representativas da arte contemporânea e destacadamente da arte naif brasileira e mundial. Destaca-se, também, por ser um autêntico ícone na expressão artística do imaginário popular brasileiro. 



"Serradores", 1959

óleo sobre tela, c.i.d.
136 x 131 cm

Coleção Roberto Marinho (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida



Nascida em Avaré, estado de São Paulo, mudou-se par o Rio de Janeiro na década de 1920 para continuar o tratamento de uma prematura tuberculose que lhe apareceu aos 23 anos de idade.
 
Em 1930, aluga uma pequena casa no bairro carioca de em Santa Teresa, instalando uma pensão. Um de seus hospédes viria a se tornar o primeiro professor e incentivador de sua carreira. Trata-se do pintor Emeric Marcier.


Djanira também passa a frequentar, à noite, o curso de desenho no Liceu de Artes e Ofícios. Segundo a Wikipedia, é nesse período que "trava contato com o casal Árpád Szenes e Maria Helena Vieira da Silva, com Milton Dacosta, Carlos Scliar, e outros que vivem em Santa Teresa e frequentam o meio artístico".



“A Festa do Divino de Paraty"
Painel que pintou na casa do Sr. Américo Marques da Costa
na rua Fresca, em Paraty - RJ
Fonte: http://www.paraty.com/?p=2842


É esse ambiente artístico e inspirador que a estimula a expor, em 1942, no 48º Salão Nacional de Belas Artes. Daí para frente, a artista plástica avança rapidamente em sua carreira. A Enciclopédia Itaú Cultural descreve a trajetória de Djanira:


"No ano seguinte (1943), realiza sua primeira mostra individual, na Associação Brasileira de Imprensa - ABI. Em 1945, viaja para Nova York, onde conhece a obra de Pieter Bruegel (ca.1525 - 1569) e entra em contato com Fernand Léger (1881 - 1955), Joán Miró (1893 - 1983) e Marc Chagall (1887 - 1985).

De volta ao Brasil, realiza o mural Candomblé para a residência do escritor Jorge Amado (1912 - 2001), em Salvador, e painel para o Liceu Municipal de Petrópolis, no Rio de Janeiro. Entre 1953 e 1954, viaja a estudo para a União Soviética.

De volta ao Rio de Janeiro, torna-se uma das líderes do movimento pelo Salão Preto e Branco, um protesto de artistas contra os altos preços do material para pintura.

Realiza em 1963, o painel de azulejos Santa Bárbara, para a capela do túnel Santa Bárbara, Laranjeiras, Rio de Janeiro (imagem abaixo).

No ano de 1966, a editora Cultrix publica um álbum com poemas e serigrafias de sua autoria.

Em 1977, o Museu Nacional de Belas Artes - MNBA, realiza uma grande retrospectiva de sua obra".





 "Painel de Azulejos Santa Bárbara" (1958)
Fonte: Cerâmica no Rio


Retrato [Jovem], 1942
óleo sobre tela, c.i.d.
45,3 x 33,3 cm
Museu Nacional de Belas Artes (Rio de Janeiro, RJ)
Reprodução fotográfica autoria desconhecida


Djanira descobre o Brasil


Filha de descendentes de austríacos com Guaranis, Djanira começou a pintar com tons escuros e sombrios. No entanto, somente depois de retornar dos Estados Unidos, e como bem diz o site do Ministéria da Cultura, ela "deixou a sua arte ‘surrealista romântica’ para dedicar-se ao Brasil. Fez várias viagens pelo interior, conhecendo os costumes e movimentos folclóricos do povo, enriquecendo sua temática e exploração de cores, composição e formas".



Estudo definitivo para o painel decorativo
"Indústria Automobilística"
do navio Princiesa Isabel da Companhia de Navegação Costeira", 1962 
têmpera s/ papel
57,5 x 124,3 cm
Fonte da imagem: http://mavma.blogspot.com.br/2011/09/foto-djanira.html


Uma de suas viagens de 'pesquisa' se deu ao Maranhão, no fim da década de 1950, onde conviveu seis meses com os índios Canela, pintando-os a seguir.

Outra de suas pesquisas de campo, já na década de 70, é quando desce às minas de extração de carvão em Santa Catarina e, também, viaja à Itabira para conhecer a extração do ferro.

Depois de sua fase sombria, a partir dos meados da década de 40, Djanira assume sua brasilidade e "sua palheta se diversifica, com uso de cores vibrantes, e em algumas obras trabalha com gradações tonais que vão do branco ao cinza claro. Apresenta em seus tipos humanos uma expressão de solene dignidade" (Wikipedia).

Ela ainda trabalha com xilogravura, azulejos, gravura em metal e tapeçaria. 

 
Fundado em 31 de maio de 2000, o Centro Cultural Djanira da Motta, em Avaré, sua cidade natal, funciona em meio a um bosque na área urbana. Em 02 de abril de 2008 é criado o Memorial Djanira da Motta e Silva, com mostra definitiva de "objetos pessoais, obras e material de referência". 

Texto por Álvaro Nassaralla

 
 

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Brasilidade e naif


J. Araujo
"Índios Brasileiros do Xingu"
(Xingu Brazilian Indians)
Acrílico s/ tela
90 x 70 cm

Segundo o Dicionário Aulete, brasilidade significa:


1. Qualidade ou caráter do que ou de quem é brasileiro.

2. Sentimento patriótico em relação ao Brasil.


Para mim, e quanto mais o tempo passa, a brasilidade está associada à coragem de se orgulhar de ser brasileiro longe dos períodos festivos e das copas do mundo de Futebol. 

Ontem assisti ao desfile técnico (sem fantasias e carros alegóricos) de duasescolas de samba do Rio de Janeiro: Vila Isabel e Salgueiro. Despertou-me que, talvez, a brasilidade seja isso: um desfile de escola de samba sem fantasias, feito do dia-a-dia, do cotidiano, da resistência alegre de um povo às adversidades, da cordialidade tão genuinamente brasileira, da esperança, do jeito 'moleque' de ser. 

Digo isso porque nossa brasilidade tem sempre que vir acompanhada de 'justificativas' nomes ou modas internacionais. Quase temos de nos desculpar por querermos 'parecer brasileiros'. 

Afonso Luz (crítico de arte, formado em filosofia pela USP, e pesquisador na área de estética e história da arte) faz um retrato bem interessante da culpa e da eterna busca de afirmação de nossa identidade. 

Luz, em entrevista à revista Tatuí intitulada "LADO B| Acumulação e empreendimento", diz que :


"O crítico Paulo Emílio Salles Gomes (...) dizia, ao meu juízo, que ao inventarmos o Brasil desenvolvemos a consciência aguda, por vezes amargurada, de não sermos um povo com identidade positiva. A negatividade começa já na palavra que nos nomeia e guarda sentido depreciativo, bem observado, na atribuição da língua portuguesa ao povo de “eiros” (como sapateiros, açougueiros, brasileiros). Só para lembrar, aqui no território nacional muitas vezes preferimos definirmo-nos como pernambucanos, cariocas, mineiros, baianos, paulistas ou gaúchos". 

Outro cuidado é o de nos travestirmos de uma brasilidade que o estrangeiro quer ver. Ou seja, representarmo-nos com os olhos do gringo, ficarmos fantasiados de papagaio e arara, etc. 


A construção de uma identidade nacional, ou regional, dado o tamanho continental de nosso país, passa necessariamente por elementos culturais que remetam à raízes históricas e populares. Tivemos artistas que compreenderam muito bem essa característica e tocaram na alma brasileira como representantes natos de todo uma nação. Um deles foi Jorge Amado. O Jornal O Globo fala sobre isso: 

Poucos brasileiros sintetizaram tão bem o país quanto Jorge Amado (1912-2001). Suas obras incorporaram personagens ao imaginário nacional, e sua própria história de vida seguiu um enredo emblemático, com intervenções políticas, defesa à liberdade de culto religioso, influência na intelectualidade e observação de costumes do povo.


O artista J. Araujo pinta uma panorâmica da região 
da Quinta da Boavista, localizada no bairro 
de São Cristóvão, no Rio de Janeiro

Voltando ao tema de nosso blog, esse espírito (e não Soul - palavra inglesa para espírito ou alma) de descontração e espontaneidade nossos são encontradas de sobra na arte naif. Os artistas não querem se mostrar brasileiros e não precisam justificar sua brasilidade: simplesmente, eles são.


A qualidade de ser brasileiro e representá-la em arte, sem cair nas 'falsificações' tropicais e etc, é o que o naif tem de espetacular. Por isso, e muitos críticos também consideram, o Brasil é um dos cinco maiores produtores de artistas naifs do mundo.

Sobre isso, Lucien Finkelstein, fundador do Museu Internacional de Arte Naif do Brasil (MIAN), no Rio de Janeiro, falou: 

"(...) podemos dizer que os pintores naifs brasileiros – por seu número e por sua qualidade – são os verdadeiros porta-bandeiras da pintura nacional fora de nossas fronteiras".



Texto: Álvaro Nassaralla



Clique aqui e veja o texto completo de Lucien.

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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Francisco de Almeida

[Francisco de Assis Rodrigues de Almeida]
Crateús - Ceará, 1962
Foto: MAUC
Xilogravador


A xilogravura “Os quatro elementos”, com quase 20 metros de comprimento e 1,50 m de altura, é a maior xilogravura do Brasil, alguns chegam a dizer do mundo. 

Tivemos o prazer de admirá-la em 2012, na exposição "Meu Padinho Padre Cícero - Em cada casa um oratório, em cada quintal uma oficina", no no Pavilhão de São Cristóvão - RJ.


"Os quatro elementos"
20 metros x 1,50 m
Xilogravura

Abaixo, seguem imagens de alguns trechos da obra (Fotos: Álvaro Nassaralla - Obs: As fotos podem ser reproduzidas na web contando que mencionem o autor e o endereço do blog).

"Os quatro elementos"
Detalhe do canto com os dados da obra


Detalhe referente a imagem acima desta
(Palavras escritas em meio às imagens)












A delicadeza e a força somadas como uma bela flor de mandacaru estão contidas nessa obra de interminável poesia. Confesso que fiquei estupefato com os tamanhos físico e lírico da obra, embora ela estivesse exposta em um balcão com cobertura de vidro apontado para o teto! Não havia espaço em paredes para expor a peça inteira.

O site da FUNARTE descreve a obra de Almeida com grande propriedade e exatidão:

"Suas gravuras, espécie de cartas enigmáticas sobre o medo e o conhecimento arquetípico, desafiam regras e normas gráficas, e têm sempre grandes formatos". 

“Os quatro elementos” funciona realmente como uma carta impregnada de mistério, desvelando de forma enigmática os elementos sincréticos da religiosidade brasileira, da fauna e flora do sertão, inclusive incluindo seres mitológicos universais. 

Anjos e santos católicos, uma sereia Iemanjá, um ser arquetípico representando o elemento 'terra', um cupido, pombas, velas, cardume de peixes, mandacarus, flores da caatinga: tudo está no grande formato dessa xilogravura.

Fonte: FUNARTE

O processo de produção dos grandes formatos está descrito  pelo site da FUNARTE:  

Impressas aos “pedaços”, as xilogravuras guardam o sabor da surpresa também para o artista que, só tem uma visão do conjunto, quando, uma vez o trabalho concluído, o rolo de vinte metros do papel impresso é desenrolado com a ajuda de um dispositivo de catracas de bicicleta e a gravura é, enfim, estendida num espaço generoso que lhe permita, inclusive, uma apresentação panorâmica.

Esta peça também esteve exposta na VII Bienal do Mercosul, realizada em 2009, em Porto Alegre - RS.

Francisco experimenta novas e sensíveis linguagens na xilogravura, novas técnicas e ferramentas de trabalho. 

Tudo começou quando criança observava seu pai trabalhar como ourives e fotógrafo da cidade e sua mãe modista e bordadeira. A seguir, transferiu-se para Fortaleza com a família aos 15 anos e estudou xilogravura com Sebastião de Paula. 

Fonte: palacetedasartes.ba.gov.br

Mais tarde, no anos 1900, passou pelas oficinas do Mauc (Museu de Arte da Universidade federal do Ceará), onde fez vários cursos de pintura, e em seus pouco mais de 17 anos de carreira atingiu um estágio de maestria. 

Descrevemos, também, o trecho em que Pedro Eymar Barbosa Costa, Diretor do MAUC, descreve as fases por que Francisco de Almeida passou:

"Nos primeiros tempos, sua meta era a pintura e orientava-se numa procura temática de figuras humanas e paisagens que se esvaía na instabilidade das mesclas do óleo, na ânsia errante das pinceladas sobrepostas ao desenho cujo poder figurativo apenas anunciava a intenção focal dos futuros temas. 

Em seguida, já no Mauc, uma fase intermediária de estudos: desenhos a carvão, retratos a pastel seco e a pastel óleo. Finalmente, a gravura pôs ordem na casa. Francisco de Almeida descobre sua natureza de gravador que começa pelo prazer do entalhe, pela obstinada e intimista luta contra a resistência das fibras, pela inesgotável energia e disposição do impressor. 

Desenho e pintura foram então submetidos à hierarquia da produção da gravura. O desenho anunciando o rastro das goivas e a escala incomum de suas pranchas. A entintagem das matrizes tornou-se pintura, provindo daí as matrizes objetos, as matrizes pintadas. O trato com essas matrizes; seus infinitos efeitos de gravação, entintagem e impressão; sua permanente reutilização e arranjos vão fazer de Francisco de Almeida um pesquisador-artesão, um gravador por excelência.

Estabilizando-se na gravura, dominando o espaço e o tempo da gravação, Francisco de Almeida atinge uma exaltação de psiquismo de tal ordem que faz jorrar um redemoinho de imagens poéticas, soprado pela movimentação inquiridora de sua alma em torno do imaginário denso de suas vivências".

O artista tem seus trabalho em coleções no Brasil e no exterior e diversas premiações. 

Texto: Álvaro Nassaralla 


Fontes: 




Exposições e premiações (Fonte MAUC)

  • 1993 - 44° Salão de Abril (Xilogravura) Menção Honrosa - Espaço Cultural do Palácio de Cultura - Fortaleza - Ce. 
  • 1994 - Prêmio Talento 94 (Xilogravura) 2° lugar - Espaço Cultural da Teleceará - Fortaleza - Ceará. 
  • 1994 - 45° Salão de Abril ( Xilogravura) - Medalha de Honra ao Mérito - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - MAUC. 
  • 1994 - 1° Muestra Latino Americano de Miniprint (Xilogravura) Universidade Nacional de Rosário - Faculdade de Humanidade y Artes - Rosário - Argentina
  • 1994 - Muestra Latino-americano de Miniprint - (Xilogravura) - Museu de Belas Artes Rosa Galisteo de Rodrigues - Santa Fé - Argentina. 
  • 1995 - 1° Salão Norman Rokwill do Desenho e da Gravura (Xilogravura) - IBEU - Instituto Brasil Estados Unidos - Fortaleza - CE. 
  • 1995 - 46° Salão de Abril (Xilogravura) 1° Lugar Júri Popular - Praia de Iracema - Fortaleza - CE.
  • 1996 - 47° Salão de Abril (Xilogravura) Praia de Iracema - CE.
  • 1997 - 48° Salão de Abril (Xilogravura) 1° Lugar Prêmio Gilberto Cardoso - MAUC - Museu de Arte da UFC - Fortaleza - CE.
  • 1997 - Prêmio Talento 97 (Xilogravura) 1° Lugar - Espaço Cultural da Teleceará - Fortaleza - CE.
  • 1998 - Reinauguração do Museu do Ceará - Fortaleza - CE.
  • 1998 - Prêmio CDL de Artes Plásticas - 1o Lugar Júri Oficial - Fortaleza - CE.
  • 1998 - 1° Salão de Sobral (Xilogravura) Menção Honrosa - Sobral - CE. 
  • 1999 - 50o Salão de Abril (Xilogravura) Palácio da Abolição - Fortaleza - CE. 
  • 1999 - 2° Salão de Sobral (Xilogravura) Sobral - CE.
  • 1999 - 3 Gravadores - Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura - Praia de Iracema - Fortaleza - CE. 
  • 1999 - Grabado Cearense em Madri. 
  • 2000 - 51° Salão de Abril (Xilogravura) 1° lugar - Mercado das Artes - Fortaleza - CE.
  • 2000 - IX Salão Paulista de Arte Contemporânea (Xilogravura) - Praça Júlio Prestes - Estação da Luz - SP. 
  • 2001 - 52o Salão de Abril (Xilogravura) - Mercado Central - Fortaleza - CE.
  • 2001 - Aquisições (Xilogravura) - Centro Cultural Dragão do Mar - Fortaleza - CE.
  • 2002 - 53° Salão de Abril (Xilogravura) - 1° Prêmio Júri Popular - Galeria Antônio Bandeira - Fortaleza - CE. 
  • 2002 - SIARA (Xilogravura) - Individual - Galeria Antônio Bandeira - Fortaleza - CE. 
  • 2002 - AINDA GRAVURA (Xilogravura) - Centro Cultural Dragão do Mar - Fortaleza - CE.
  • 2003 - 54° Salão de Abril (Xilogravura) - Galeria Antônio Bandeira - Fortaleza - CE.
  • 2003 - Gravuras - Francisco de Almeida (Xilogravura) - Individual - Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura - Praia de Iracema - Fortaleza - CE.
  • 2004 - 55º Salão de Abril - Fortaleza - CE. 
  • 2004 - Abre Alas 2004 - Galeria A Gentil Carioca - Rio de Janeiro - RJ.
  • 2005 - 56º Salão de Abril - Fortaleza - CE.
  • 2005 - Panorama da Arte Brasileira 2005 - Museu de Arte Moderna de São Paulo. 
  • 2005 - Brasileiro e Brasileiros - Museu Afro Brasil - São Paulo - SP.
  • 2006 - Artista homenageado do 57º Salão de Abril - Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará - MAUC. 
  • 2006 - Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro - Museu Afro Brasil - São Paulo.
  • 2007 - Bienal de Valencia - Espanha.
  • 2007 - Menção Honrosa na XIV UNIFOR PLÁSTICA - Fortaleza - CE
  • 2011 - 1º Prêmio na XVI UNIFOR PLÁSTICA - Fortaleza - CE