Anabea [Ana Beatriz Cerisara]
Nasceu em Santo Ângelo (RS) e é radicada em Florianópolis desde 1979.
Para Anabea, o estilo naïf oferece um mundo sem limites para a criação artística, no qual as cores intensas e temas singelos do dia-a-dia de uma pequena cidade, ingênuos e até infantis, roubam a cena.
A despreocupação em encaixar-se numa escola ou estilo e seguir técnicas como a perspectiva permitem um mundo de possibilidades. Junta-se a isso uma das tradições mais antigas do artesanato brasileiro, conhecida ou praticada por qualquer mulher com algum fiozinho de cabelo branco na cabeça: o bordado. Para muitos, uma tradição perdida no corre-corre da competitiva vida moderna.
A delicadeza do trabalho da artista retrata cenas do cotidiano da Ilha de Santa Catarina e personagens da religiosidade brasileira, entre outros temas.
“Bordar, na nossa sociedade, virou coisa para mulherzinha que fica em casa”, observa Anabea. “Com este estilo de vida, abandonamos algumas práticas importantes passadas de geração para geração e a nossa ancestralidade”, complementa.
Professora aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), onde atuava junto ao curso de Pedagogia, na área de educação infantil, e doutora em Educação pela Universidade de São Paulo (USP), Anabea jamais teve contato com a produção artística até o primeiro encontro do grupo de bordadeiras “Respigar”, formado em 2002 na Barra da Lagoa (leste da Ilha de Santa Catarina). O diagnóstico de um câncer, dois anos antes, foi o alerta de que deveria frear o estressante estilo de vida acadêmico que levava. “Vi que, com aquela pressão por resultados e produção, não iria agüentar por muito tempo”, lembra Anabea.
Cinco anos e 52 telas depois, a artista está mais realizada do que nunca com o caminho que sua vida tomou. “Bordar é resgatar o nosso feminino, o nosso sagrado, é tecer a vida. Bordar é uma prática curativa”, explica Anabea, 50 anos.
O exercício em grupo continua sendo fundamental na vida da artista. Às quartas-feiras, ela reúne-se com um grupo conhecido como "Roda de Bordado do Campeche", onde Anabea mora e mantém seu ateliê. Algumas destas mulheres ainda são da época do “Respigar”.
A artista também é voluntária no Centro de Apoio aos Pacientes com Câncer (CAPC), onde coordena um grupo de pessoas que utiliza o bordado para exercitar o auto-conhecimento. Outra atividade em sua agenda é o curso de formação no método Pathwork, baseado na metodologia do equilíbrio entre corpo, espírito e mente, idealizado pela austríaca Eva Pierrakos (1915-1979).
Paciência, intuição, criatividade, sensibilidade e perseverança são treinamentos constantes enquanto a artista pinta suas telas com linhas e agulhas. Por ali vão sendo traçados paisagens e cenários e personagens vão ganhando vida e movimentos próprios – cada tela pode levar até um mês para ficar pronto. As mulheres que bordam trocam idéias, contam histórias, revelam segredos, tornam-se amigas e confidentes. “Em grupo, existe a camaradagem. É como se fosse a gasolina de um carro”, Anabea compara, enquanto alinhava o detalhe de um barquinho no mar.
Fonte: http://www.casan.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário